Novas ruas. Pessoas diferentes. Diversos
sotaques. Sombras entre a multidão. Mas, apesar de tudo, um amor antigo,
incorruptível, forte como a força do mar que beija a falésia.
Incrivelmente, contra tudo e contra todos, ela não consegue mudar. Vê um novo e atractivo
mundo desenhar-se-lhe diante dos olhos – doirados ao sol – e, mesmo assim, vê-se
absorvida pelo passado, que tanto lhe traz à memória.
Afinal,
o que são memórias? Talvez pequenos pedaços de nós. Talvez páginas arrancadas
de um livro, repleto de versos incompletos. Ou, com mais certezas, fragmentos
de uma vida recheada de momentos.
Ao invés do que se passa no seu
interior, ela mudou exteriormente. Não naquilo que os outros continuam a ver,
mas naquilo que sente. As costas estão hirtas, o olhar está mais atento, o
passo ligeiro apressa-se para cumprir horários e não entrar num conflito
pessoal com o maldito relógio, que continua a exercer uma pressão infindável e
incómoda sob a paz que anteriormente povoava os seus dias.
Ela enfrenta todos os que possam dela duvidar, vive um
sonho que não havia sequer imaginado, descobre novos propósitos, novas
realidades. Embora tente fugir ao passado, que teima em espreitar por entre as
fotografias escondidas numa gaveta, não consegue tal proeza.
Ele tem o poder de ser demasiado persuasivo, entranha
em quem o rodeia uma confiança avassaladora, faz acreditar em possíveis finais
felizes. Diz o que sabe surtir efeito, usa e molda as palavras a seu
bel-prazer, prende as pessoas numa teia invisível.
Mesmo que não faça parte do seu jogo, ele acaba por conseguir adivinhar o que ela pensa, não dá ponto sem nó, cria novos obstáculos, pretende chegar a uma meta que já tem determinada.
Ela deixou-se cativar e, agora, nem as novas paisagens
e o ambiente mágico a fazem mudar e esquecer tudo o que viveu. Afinal, nunca é
fácil esquecer, seja aquilo que for. A teimosia impera, penetra no coração e
faz com que o amor pereça, firme. No fim de tudo, nada muda aquilo que
sentimos, nem aquilo que somos. Nem mesmo o tempo, que acaba por inverter a
nossa existência, povoando-a de instantes de irracionalidade e puros devaneios.
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