terça-feira, 21 de janeiro de 2014

As palavras




Acredito que as palavras descrevem a totalidade da nossa essência. São estes elementos, estes conjuntos de caracteres – que, por si só, pouco ou nada nos transmitem – os responsáveis pelo desenhar semântico e lexical da nossa vida. As palavras originam histórias, permitem o descrever de um dia ou de uma noite; de um segundo ou de uma hora. 

Estas histórias, dédalos intermináveis e enredados, tal teia de aranha, reúnem verbos, vocábulos sem fim, locuções, preposições, onomatopeias: em suma, aglomeram toda a grandeza da nossa língua.

É através das palavras que tornamos os sonhos realidade, é com elas que viajamos por paraísos recônditos, sem sequer levantar o olhar das páginas de um livro, que repousava incólume na estante, até ao momento de nos aventurarmos numa demanda pela sabedoria. Ocasionalmente, somos confrontados, num duelo, com as palavras. Travamos uma imensa guerra, sem saber o que nos espera no final do conflito. 

As palavras, por vezes camufladas num véu de conforto momentâneo, acabam por ferir, deixam-nos sem defesa possível. Imagino, facilmente, um tabuleiro de xadrez. Palavras cruzadas entre adversários, algumas impensadas, sem fundamento, um passo em falso e atinge-se o apogeu: esgotaram-se as palavras, acabaram-se as deixas que permitem decidir o futuro. Nem o silêncio corpóreo que povoa o ar é meio de resolução para um conflito linguístico.

Não podemos, porém, imaginar o futuro sem palavras. Elas rodeiam-nos, aparecem vindas de lugares diversos, e obrigam-nos a ter presentes uma quantidade infindável de significados. Ocupam lugar na nossa mente, na literatura, na rua, nos dicionários. Ocupam lugar em cada um de nós. 

Afinal, as palavras não são mais que pedaços vagos de memória, por vezes escritos em papel, timbrado com a força do sentir.

Sem comentários:

Enviar um comentário